O goleiro Kodjovi Obilale, uma das vítimas do ataque terrorista contra a seleção de Togo, dias antes da Copa das Nações Africanas, em Angola, reclamou do descaso dos órgãos internacionais de futebol, como a Fifa.
"É um mundo podre", afirmou o goleiro, que por causa do incidente ficou paralítico. Obilale teve que passar por seis cirurgias depois de ser atingido por uma bala durante o ataque.
"Perdoe minha linguagem, mas eu acho que é um pouco nojento. Se fosse um jogador famoso como [Didier] Drogba e os outros, eu não acho que as coisas teriam acontecido assim", desabafou Obilale em entrevista à Associated Press. O jogador está em um hospital na costa oeste da França.
"Eu acho que é uma aberração e doentio que eles tenham me abandonado", declarou. O tiro que atingiu Obilale atingiu sua coluna e deixou danos que provavelmente serão irreversíveis. "Eu costumava ter coxas enormes", disse o jogador, que agora tem as pernas finas.
"A minha grande preocupação é a minha perna direita. Isso me preocupa. Eu não sei o que acontecerá com ela. Eu rezo para que ela melhore, para que eu possa ao menos voltar a andar. Mesmo que eu não possa jogar novamente, eu quero andar. Mesmo se eu mancar, isso não importa, porque há mais da vida do que o futebol. Eu posso fazer outras coisas. Tenho apenas 25 anos", declarou o goleiro.
Ele diz que nem a Confederação Africana de Futebol, nem a Fifa mostraram preocupação com ele. A CAF ainda puniu Togo por retirar a seleção da competição banindo-os do futebol internacional, mas a Fifa interveio e tirou a suspensão. Em relação a ele, porém, ninguém deu satisfações.
A federação de futebol de Togo, segundo ele, não foi muito melhor. "Quando você está machucado, ninguém liga para você. Eu ligo e digo: 'O que vocês estão fazendo? Eu preciso de vocês. Ao menos me liguem'. Eu fui lá [Angola] defender nossas cores. Eu derramei meu sangue pela nossa bandeira... Mas ninguém liga", disse Obilale.
Quando o jogador foi para a África do Sul ser operado, depois do incidente, o ministro do esporte do Togo, Christophe Tchao, deu € 13 à esposa de Obilale. A AP conversou o ministro, que afirmou que a mesma quantia foi dada ao jogador algum tempo depois. Obilale diz que é mentira e que o dinheiro não cobria nem as despesas da sua mulher enquanto esteve com ele na África do Sul. Quem pagou a conta foi o seu companheiro de seleção e jogador mais bem sucedido do país, Emmanuel Adebayor.
O jogador parece ter dias melhores pela frente, já que a Fifa afirmou que pretende fazer mais do que dar desejos de melhoras para o goleiro. Outra questão é que Angola teria um seguro contra acidentes de atletas, mas a questão terá que ser resolvida por advogados, a não ser que a Fifa intervenha.
Obilale diz que até hoje não entende por que aquele ataque foi feito de forma tão brutal. "Jogar futebol é meu sonho desde criança, e ele foi subitamente tirado de mim", afirmou.
Trivela
Foto: Reuters
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